Tive meu primeiro namorado aos
treze anos de idade, e, para resumir a história, foi um fracasso total. Não
imagino como um relacionamento de duas crianças de treze anos de idade poderia
dar certo, mas ali estivemos nós, no que era considerado namoro lá pelas bandas
de 2002. A gente nunca saiu junto, ele nunca veio na minha casa e nem eu fui na
dele. Basicamente era um namoro enquanto durava o período das aulas.
Eu gostava bastante dele,
bastante mesmo. Era o primeiro menino que eu gostava – eu sempre fora blasé
demais para ter crushes quando mais nova, pois achava todo mundo idiota. Ele
lia os mesmos livros que eu. Ele era ruivo, como eu. Ele era amigo das minhas
amigas. Era de esquerda. Ele era o que, na época, eu achava o perfeito
cavalheiro e o melhor homem que eu jamais encontraria em toda a minha vida.
O namoro durou uns três meses, se
posso me lembrar.
Um dia, no recreio – e a própria
palavra já me lembra toda a minha infância condensada nessas três sílabas – ele
me chamou para um canto meio afastado, mas ainda sob a vista do nosso grupo de
amigos, e disse que não gostava mais de mim. Disse que queria terminar.
Lembro-me de sentir o chão sumir debaixo dos meus pés e ficar olhando para
baixo, com o rosto vermelho de vergonha e tristeza. Eu não disse nada,
absolutamente nada. Ele tentou conversar comigo e arrancar algumas palavras,
mas eu somente assenti com a cabeça e engoli o fato.
Ele não era da mesma classe que
eu, de modo que não viu o drama que se seguiu quando eu estava fora de sua
vista. Minhas amigas tiveram que praticamente me arrastar para a sala de aula,
todas com expressões mortificadas de solidariedade e pena. Eu não falei pelo
resto do dia, e minha melhor amiga na época me convidou para passar a tarde com
ela para conversarmos.
Avisei minha mãe muito
rapidamente aonde eu ia.
Durante aquela tarde passeamos
pelos parques arborizados que ficavam perto do apartamento da minha amiga, mas
nada do que ela dizia conseguia me consolar. No final do dia, quando tomei o
ônibus de volta para casa eu chorava desconsoladamente imaginando que ficaria
eternamente solteira, que eu nunca mais iria achar alguém como ele.
Cheguei em casa e minha mãe
estava furiosa comigo. Ela sempre detestara que eu fizesse coisas as quais eu
não pudesse avisá-la com pelo menos uma semana de antecedência, e enquanto eu
entrava cabisbaixa no quarto ela me seguiu desfiando broncas e mais broncas
sobre como eu era irresponsável.
Chorando eu retruquei para ela:
-- O Fulano terminou comigo, ok?!
– como se dissesse “está satisfeita agora?”.
Lembro da cara de desgosto da
minha mãe. Eu sou a filha mais velha, e aquela era a primeira vez que ela teria
que me consolar por causa de um fracasso amoroso. Ela me respondeu somente um
cabisbaixo “ahh, filha...” e me deixou sozinha no quarto para ir fazer a janta.
Lembro-me de me sentar no chão e
pegar o meu walkman – sim, eu ainda tinha um walkman, embora já fosse a época
do discman – e colocar na rádio para ficar ouvindo músicas tristes. Fiquei no
chão por uns dez minutos até que minha mãe voltou ao quarto.
-- Sai do chão – ela disse. – Não
vai ficar aí se deprimindo que é pior.
Levantei à contragosto. Eu queria
sim ficar me deprimindo no chão. Era o que eu mais queria naquela hora. Afinal,
o garoto da minha vida tinha terminado comigo e acabado com todos os meus
sonhos do nosso brilhante futuro juntos.
Minha mãe me conduziu para a
minha cama e sentou-se do meu lado. Ela acariciava o meu cabelo e não dizia
nada. Ela acariciou o meu cabelo por longos dez minutos enquanto eu chorava,
esperando que ela dissesse alguma coisa que me consolasse. Na época eu tinha um
cabelo longuíssimo, indo bem além do meu quadril.
Ela passava a mão no meu cabelo
carinhosamente.
-- Você tem um cabelo tão bonito –
disse ela, pensativamente. – Tão longo... Isso não é nada – ela se referia ao
término. – Seria muito pior se você tivesse piolho! Imagina só, ter piolhos nesse
seu cabelo tão bonito! Não seria bem pior do que isso?
Meu choro se calou imediatamente
e eu olhei minha mãe, chocada. Eu não esperava, de todas as coisas que ela
poderia dizer para me consolar, alguma coisa daquela natureza. Fiquei olhando
para ela por alguns segundos, sem piscar, enquanto ela, aparentemente muitíssimo
satisfeita consigo mesma, deu alguns tapinhas no meu ombro, se levantou e foi
embora.
Diante do choque minha tristeza
parou. Acho que ela ficou atônita. Talvez fosse esse exato efeito que minha mãe
queria.
Eu já tive piolhos quando era bem
pequena, e, realmente, é muito muito muito ruim.
Fiquei imaginando meus lindos
cabelos impregnados de piolhos, minha cabeça coçando, cheia de lêndeas, aquele
xampu fedido e o maldito pente fino que minha mãe passava para tirar aqueles
parasitar nojentos. Fiquei imaginando meu lindo cabelo contaminado.
Sim, pensei comigo mesma. Seria
realmente muito pior se eu tivesse piolhos.
Miraculosamente eu parei de
chorar. A dor de perder aquele garoto idiota não era absolutamente nada em
comparação à ideia de ter piolhos.
No dia seguinte cheguei à escola
sorrindo. Ninguém esperava aquilo, nem mesmo o fatídico primeiro ex-namorado,
que provavelmente achava que eu ficaria totalmente devastada por perdê-lo.
Querido, eu pensava comigo mesmo,
nada é pior do que ter piolhos! Pelo menos não no que concerne a homens.
E eu levo esse lema comigo até
hoje.
Meu deus! Levarei essa lição pra vida e para as minhas descendentes! Hahaha realmente é bem pior pegar piolhos. Amei!
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